quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Denotação e conotação

A explicação rasa que costumam dar para denotação é a de "primeiro sentido" ou significado "verdadeiro" de uma palavra, sem usarmos figurações.
Não acho que isso funciona. A maior parte dos signficados "denotacionais" são em algum grau figurativos, analógicos ou metafóricos, isto é, "conotacionais".

Conforme comenta Quintiliano em "Instituições Oratórias", (Cultura, São Paulo, 1944, vol.2 apud Carlos Ceia)
"Se compararmos a linguagem antiga com a moderna, quase tudo o que dizemos se pode chamar figurado."

O que é então denotação? Essa é uma pergunta respondida de muitas maneiras. David G. Hays no prefácio de seu livro "Linguistic Problems of Denotation" escreve: "The division of the linguistic properties of knowledge--speaking and understanding speech--from the psychological problem of denotation--relating perception to knowledge--is crucial to the future of linguistics. The form proposed here is to call the part of knowledge comprising properties, entities, events, and their names 'dictionary' and all other knowledge 'encyclopedic', separating them conceptually, but linking them substantively".
Esta introção expressa claramente a dificuldade do entendimento da denotação.

Não há um consenso na denotação (sentido atribuído, entendimento, raiz semântica ou proto-significado, etc... ) da palavra denotação!

Mas o conceito "denotação" é deveras importante e útil, assim vou me apropriar de uma explicação e essa será a que usarei, contando com a compreensão dos leitores de que não há uma resposta "correta", por que este é um assunto ainda em aberto, como costumam ser os assuntos importantes.

Denotação para mim é uma atribuição de valor (como em programação), ponto. Não existem sinônimos, pois duas palavras nunca expressam a mesma coisa ou sentido. Quando uma palavra for importante para o entendimento, não devemos supor que o leitor tem a mesma compreensão que nós da mesma, devemos definir (Para lerem mais sobre esta e outras definições de denotação, vejam: Th. R. Hofmann: "The Law of Denotation", em "Realms of meaning: an introduction to semantics").

Tenho observado que muitos autores usam não-definições, ou variam durante o texto o sentido da palavra, seja por não terem o significado firme em sua mente, seja para poderem escapar pela tangente durante uma discussão. Definições vagas são indicadores de maus autores (de textos didáticos) na minha opinião.

Pensem em felicidade. No que difere felicidade da alegria ou da satisfação? Vocês já deve ter usado ou visto usarem estas palavras mais ou menos como sinônimos, seus sentidos estão esparsos e ainda assim misturados, mas sabemos que são de algum modo ou sob alguma acepção diferentes.

No jargão matemático, a denotação da Felicidade seria mais ou menos assim:
"Seja o humano constituido de três aspectos: físico, emocional e mental.
Sejam felicidade, alegria e satisfação sentimentos agradáveis (que não são emoções).
Seja a Satisfação produzida pela saciedade de uma necessidade física.
Seja a Felicidade produzida pela saciedade de uma necessidade mental.
Seja a Alegria produzida pela saciedade de uma necessidade emocional.
Assim felicidade, alegria e satisfação diferem em sua causa.
Felicidade(mental), Satisfação(física), Alegria(emocional)"

A denotação não precisa de explicação, justificativa ou por quê. É equivalente ao axioma da proposição.
Como no conto "três porquinhos por um engenheiro", o lobo é mau por definição!

Conotação é o contrário de denotação, conotação é um sentido "emprestado", como ocorre em em uma analogia.

Carlos Ceia, no dicionário de termos literários escreveu uma citação interessante da história da da conotação que expressa bem o que o criador do conceito queria com ele: "L. T. Hjelmslev (1953) introduziu o conceito de conotação na discussão linguística, para aludir à capacidade que qualquer signo linguístico tem de receber novos significados, que se averbam ao sentido original, tomando este como referência alojada nos dicionários, por exemplo. "

Assim, para mim, tudo que não for explicitamente denotado, será uma conotação!

Para alguns autores da psicologia cognitiva, a distinção entre denotação e conotação ocorre analiticamente (contrário do pretendido pelo criador do conceito, que o criou semanticamente). (Vide: "Cognitive psychology" de Robert J. Sternberg,Jeff Mio).

Como há muita polêmica, não há também aqui uma resposta "correta".

Para melhorar o uso da denotação, precisamos conhecer como definir clara e inequivocamente um termo, do contrário, estaremos apenas criando novas conotações para a palavra.

Neste ponto, precisamos de um pouco de ferramental, apenas ideias não mais bastam.

Por isso na próxima postagem pretendo escrever sobre definição extensiva e definição intensiva.

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