segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O que é computação?

Primeiramente, acho prudente explicar o que entendo por computação.

Como Dijkstra sabiamente comparou, o computador (enquanto máquina) está para a computação assim como o microscópio está para a biologia e o telescópio está para a astronomia (apud Braben ISBN-13: 978-0198522904).

Portanto, pode ser que o tanto que eu escreva sobre as máquinas computadores seja menos do que muitos leitores esperariam. Porém estarei sempre falando dos computadores enquanto entes abstratos.

Computação tem mais a ver com como são empregados os esforços mentais para resolver problemas, minimizar o efeito negativo da complexidade desses problemas no seu tratamento e principalmente evitar a complexidade artificial criada pela ignorância (desconhecimento) ou estupidez (no sentido de falta de inteligência).

Outra coisa que gostaria de colocar é a razão pela qual eu trato de forma computacional o pensamento humano.

Assim há dois aspectos que considero valiosos para a compreensão de como eu escrevo e sobre o que escrevo:

O primeiro aspecto, é o significado da palavra computador. Computador é aquele que computa, independentemente de sua natureza. Ele pode ser humano, animal ou eletrônico, isso é irrelevante. É dessa forma que Turing tratou o ente computador: "We may compare a man in the process of computing a real number to a machine", no seu artigo seminal "On computable numbers" onde nasce o famoso conceito da máquina de Turing.

Muito do que os antigos "magos", "paranormais" ou "mentalistas" faziam é aplicar conceitos da computação mental humana para explorar suas limitações e características "ocultas" (que não são empregadas ou percebidas normalmente). Keith Barry nos dá uma mostra divertida disso nesta palestra:





Ao se supor o cérebro humano como um computador, tanto suas fraquezas como seu potencial oculto são revelados.
Assim, o segundo aspecto é que eu gosto e uso os paradigmas da psicologia cognitiva.
A psicologia cognitiva é radicalmente diferente de outras abordagens da psicologia em duas linhas principais (Neulfeld e Stein, 1999, "As bases da psicologia cognitiva". Revista da Saúde – URCAMP – V.3 N.2 – jul/dez ):
  • Aceita o método científico positivista e rejeita a introspecção como método válido de investigação, contrariamente aos métodos fenomenológicos como a psicologia freudiana.
  • Contrariamente à psicologia comportamental, afirma a existência de estados mentais internos como o desejo e as motivações (conscientes ou inconscientes) e as crenças (sistema de suposições, consciente ou inconscientemente, individual ou coletivamente).
A abordagem cognitiva foi divulgada por Donald Broadbent no seu livro “Perception and Communication” em 1958 (Broadbent, 1958 ISBN-13: 978-0080090900). Desde então, o paradigma dominante na área foi o do processador humano de informação, modelo este defendido por Broadbent.

Abaixo temos a figura mais conhecida desse modelo:

Nesse quadro de pensamento, considera-se que os processos mentais são comparáveis aos softwares executados em um computador que, neste caso, é o cérebro. Esta teoria toma o computador como metáfora e utiliza-se da nomenclatura usada na computação para referenciar os processos mentais dos indivíduos humanos, retormando o conceito seminal do Turing.

Al Seckel nos apresenta em sua palestra algumas das clássicas armadilhas cognitivas do processador humano de informações:






Comparar um humano com uma máquina pode ser chocante para algumas pessoas, mas é bastante útil para outras. Os modelos biológicos usados pela medicina são todos baseados em analogias de máquinas, desde alavancas simples a sofisticadas bombas de sódio-potássio.

Segundo Newell (1987 ISBN:0-674-92099-6), descrever um sistema qualquer como um “sistema de conhecimento” é apenas uma das alternativas existentes. Essa é uma escolha pragmática, que depende da intenção de quem escolhe. No Ars Computatio, esta é a minha escolha.

Portanto não é ruim lembrar aos desavisados que o mapa não é a estrada, mas apenas uma representação da mesma.

Um comentário:

  1. Adorei o texto! Blog com boa iniciativa e vejo muito conteúdo inteligente e criativo vindo por ai.
    Você Roberto é uma pessoa que tem visão thundercat (além do alcance) e é ótimo poder compartilhar um pouco desta visão lendo seu blog!
    A computação faz parte da nossa vida. Por isso a necessidade de conhecermos mais sobre o tema se torna obrigatório.
    coloquei o seu link no meu blog www.contosdevampiroseterror.blogspot.com e assim o pessoal conhece mais sobre o seu trabalho.
    abraços
    Adriano Siqueira

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