domingo, 9 de janeiro de 2011

Uma introdução à notação

Vislumbro grandes oportunidades de contribuições e avanços em notação (obviamente sob a definição computacional do termo).

Mas mesmo para quem não pratica computação os conceitos que tratarei podem ser muito úteis!

Pelo que eu tenho conversado, a maioria das pessoas ou não sabem o que realmente é notação ou não dão muita importância para ela, mesmo entre os computólogos.

Para mim, notação é um tema fundamental. Mesmo o labor mental que fazemos sobre um problema é feito através de uma notação. Nossa própria língua pode ser vista como uma notação, visto que podemos expressar os problemas, idéias e abordagens verbalmente através dela.

O primeiro artigo que eu li corroborando esta minha opinião foi o "Notation as a Tool of Thought", de Kenneth E. Iverson, ganhador do prêmio ACM Turing de computação no ano de 1979.

Nele eu revi a célebre frase de Whitehead: "By relieving the brain of all unnecessary work, a good notation sets it free to concentrate on more advanced problems, and in effect increases the mental power of the race", que expressa de forma concisa o poder da notação.

Eu acredito que a influência da notação vai além, uma boa notação pode tornar possível a solução de problemas antes insolúveis, uma notação ruim tem o efeito oposto, ela abafa as capacidades e pode tornar impossível para muitas pessoas problemas que de outra forma teriam solução.

Um interessante estudo sobre como pequenas alterações de notação na língua modificam muito a capacidade das pessoas de entender e solucionar problemas foi feito por Charles E. Osgood, em Language, Meaning, and Culture. Nele podemos absorver um pouco de sua compreensão sobre o assunto.

Infelizmente para mim, seus objetivos eram outros, pois ele é um psico-linguista. O principal trabalho de Osgood foi aquilo que ele denominou de "semântica diferencial". Eu vejo a semântica diferencial mais como uma ferramenta para se medir o significado conotacional de palavras e expressões, porém uma descrição dada por seus detratores para para a semântica diferencial é de que ela seria uma atualização da disputa medieval entre os nominalistas e realistas (pretendo voltar a este assunto no próximo post).

Uma abordagem "humanística" para o problema de notação foi feita por Alfred Korzybski na sua "semântica geral" (Uma boa introdução à semântica geral é "Drive yourself sane: using the uncommon sense of general semantics" ISBN 0-9700664-6-5).

Alfred Korzybski Apresenta a semântica geral como uma tentativa de se explicar para pessoas ainda "adormecidas" como se evitar as "armadilhas de raciocíonio" e "valas" que a linguagem usual cria, procurando meios para "se pensar mais claramente". Seu livro "Science and Sanity" (1933, ISBN 0-937298-01-8) é precursor de muito o que tem sido feito na área.

É curioso por exemplo que o "pensamento positivo"


ou a "programação neuro-linguística" utilizam uma abordagem que me parece uma inversão da intenção de Korzybski, criando valas longas para conduzir o pensamento das pessoas para o poço desejado. Através da PNL se deforma (no sentido de aplicar uma modificação) os conceitos e definições para que aquele que esteja sujeito a essa deformação veja o mundo da forma que o autor da deformação deseja. Obviamente os termos que eu uso aqui diferem dos termos usados pelos praticantes de PNL, porém definitivamente este não é o momento de se discutir isso. Talvez em alguma postagem futura, eu venha a tratar do assunto PNL.


Eu e E. E. Nakamura concordamos que a hipótese de Sapir–Whorf é um ícone do tratamento do problema de notação dento do "humanismo".

Segundo esta hipótese, nomes diferentes dão entendimentos diferentes sobre os assuntos, especialmente entre linguas diferentes. Esta questão é até que intuitiva, mas provar a hipótese se tornou um pesadelo à parte. A maioria dos estudos teve falhas metodológicas graves, Os objetos escolhidos eram inapropriados, etc... Após quase um século os resultados ainda são inconclusivos. A hipótese de Sapir–Whorf se tornou outro campo espinhoso de discussão...

Em computação o problema é explicitamente de notação e seu tratamento é mais tranquilo, por que como Goodaire e Parmenter provocam os leitores com o título do primeiro capítulo de seu livro D. M. with Graph Theory (1998, ISBN 0-13-092000-2), "Yes! There are Proofs!".

Provocações à parte, antes de brincar mais um pouco com notação, vou tentar fechar um entendimento para alguns conceitos deveras confusos, porém necessários para abordarmos o assunto de forma inteligível para os leitores que não estão acostumados a lidar com processamento de linguagem natural: Denotação e conotação, definição extensiva e definição intensiva, cotexto e contexto.

Só que isso fica para as próximas postagens!

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